Hoje foi um dia bastante agitado. Descobri que o mordomo não é mordomo e as empregadas não são empregadas. São da minha família e prometeram a meu pai que se eu sobrevivesse as mãos de Rathir eles tomariam também conta de mim. O tomar conta de mim, pelos vistos, é fazer de mim uma princesa, o que me incomoda de certo modo.
O pequeno-almoço parecia um banquete. Estavam todos felizes de me ver. Carnil não estava presente o que me preocupou. Todos os dias as 6 horas da manha presente e no meu primeiro dia em Oeste Azul ele não está. No final fui para o meu quarto e descobri uma caixa. Uma caixinha de cartão velha e uma fitinha beije a segurar a tampa. Não controlo a minha curiosidade e abri, lá dentro tinha um monte de fotos minhas com o meu pai e o Carnil aparecia em muitas delas, estava completamente igual. Devia de ter pelo mais idade do que aparenta mas deve de ser qualquer coisa de especial nos guerreiros. No fundo da caixa tinha uma espécie de envelope e estava lá escrito “Para a: Yáviël”. Mal a vi agarrei-a com força e abri-a, a carta dizia o seguinte:
“Minha querida Yáviël. Se estás a ler esta carta é porque já estás mais velhinha do que agora. Espero ainda estar presente mas caso não esteja tenho a certeza que o Carnil, ou melhor, o jovem Erat está a tomar muito bem conta de ti.
Vamos começar mesmo por esse tema, o Erat. Filha ele é o homem perfeito, fiz-lhe todos os testes que um verdadeiro homem deve superar. Para além dos de guerreiro ele sabe todas as lidas domésticas e como cuidar de crianças (essa experiencia foi contigo. Apenas não testei a sua intimidade como é obvio. Não o deixes escapar princesa, aproveita todos os pequenos momentos que ele te dá, de inicio não vais reparar, mas ele é muito lamechas e querido (sim, isso já testei com a tua prima, mas não lhe digas nada).
O próximo assunto, a tua mãe. Querida, desculpa não a ter salvo. Desculpa por agora não teres uma mãe que te acompanhe e te dê carinho. Sinto-me tão culpado Yáviël. Eu senti que algo não estava bem mas a mãe do Erat não me deixou ir vê-la quando se calhar necessitava de mim, fui fraco, devia de a ter ultrapassado e estar lá quando pelo menos partisse lhe desse um beijo. A culpa é toda minha querida e acredita que morrerei com esse peso na consciência.
O ultimo assunto e não o menos importante é acerca de ti. Quero que te tornes a melhor guerreira de Oeste e Este Azul, Rathir deve andar á tua procura e quero que sejas suficientemente forte para o conseguir derrotar. Essa tarefa está nas tuas mãos. Eu já estou muito velho, no próximo mês faço 750 anos. Portanto esforça-te muito querida. Daqui a uns anos quero ouvir por todo o Oeste e Este Azul “Yáviël, a guerreira que salvou o mundo Azul.” Ficarei muito orgulhoso se assim for mas para isso vais precisar de um aliado e não tenho de repetir quem é pois não? Quero que te tornes adulta ou mais adulta, vais ter de lidar as tropas com ele e ser o braço direito do Líder. Líder é uma espécie de rei mas mais “pacifico” se assim se pode dizer. Bem querida despeço-me aqui com o melhor beijo que vai directo ao teu coração. Estarei sempre do teu lado, vivo ou morto, o teu coraçãozinho guarda-me aí.”
Quando acabei de ler estava com uma lágrima no canto do olho e a porta abriu-se de repente, eu assustei-me limpei as lágrimas e guardei a carta rápido assim como as fotos. Era o Carnil e ele disse:
-Bom dia Yáviël.
-Bom dia Carnil.
-Chama-me Erat, o meu nome original põe-me mais velho do que sou.
-Por falar em velhice, quantos anos tens? – perguntei a pensar na idade que o meu pai disse que tinha.
-Eu? Tenho 21 anos porque?
-Carnil! Ou melhor Erat. Diz-me a verdade. Contaste-me a historia da minha vida toda e a tua idade não és capaz de dizer?
-Mas eu estou a dizer a verdade Yáviël.
-Mas o meu pai disse que tinha 750 anos, ou que os ia fazer.
-Yáviël! Em que mundo estás? O teu pai infelizmente já não esta connosco, eu sei que é difícil mas tens de aguentar.
Eu já não aguentava mais. Queria alguém que me justificasse aquilo tudo, não gosto que me escondam nada ou que façam de mim parva. Portanto perdi a cabeça. Atirei a caixa, as fotos espalharam-se pelo chão do quarto, inclusive a carta. Ele ficou a olhar para mim e perguntou:
-Yáviël, que é isto?
-É o que o meu pai me deixou. E aí ele diz que tem 750 anos.
-Essas respostas terás esta tarde.
Ele levantou-se e dirigiu-se para a porta. Antes de sair acrescentou:
-Ah! E eu tenho 109 anos.
Dito isto saiu.
Eu peguei numa espada que tinha presa a uma das paredes. Mal peguei nela o braço caiu-me, era mais pesada do que esperava. Mas depois peguei nela e comecei a tentar manuseá-la. Não foi fácil, nada fácil até que me cortei no braço esquerdo ao tentar roda-la com a mão contrária. Só aí parei com a espada, interiorizei que precisava mesmo de uns grandes treinos para conseguir ser uma guerreira que consegue pegar na espada. Depois peguei nas fotos todas e colei-as pelo meu quarto. Assim sentia a presença do meu pai mais intensa. Estava a colocar a quinta foto quando o meu tio entrou no meu quarto:
-Querida, o menino Carnil espera-te lá em baixo. Quer que o acompanhes e diz que é muito importante.
-Já vou tio, obrigada.
Ele assentiu e retirou-se. Acabei de colar as outras cinco fotos que me faltavam e saí.
-Vamos princesa? – Disse Carnil.
Ele estava á entrada do palácio com dois cavalos brancos e esticou-me a mão em sinal de cavalheirismo. Dei-lhe a mão e ele ajudou-me a montar o cavalo. Ele rapidamente montou o dele e partiu. Eu fui atrás dele até que ficamos lado a lado. Era a primeira vez que montava um cavalo mas era como se sempre soubesse. Não tive dificuldades nem medos. Chegamos a um sítio que estava repleto de pessoas e tinha uma espécie de palco. Nesse palco estava um homem e segundo o que me apercebi aguardavam-nos. Senti-me mal, não gosto de ser o centro das atenções mas tive de aguentar. O Carnil sussurou-me e disse:
-Agora porta-te bem, está aqui todo o reino que confia em ti.
O meu medo aumentou. Mal chegamos perto do palco ajudaram-me a sair de cima do cavalo e acompanharam-me ao palco. Toda a gente me olhava. O Senhor que estava lá em cima levantou-se e pediu silêncio e discursou:
-Caro povo de Oeste Azul, eu Ilúvatar, líder de Oeste Azul, tenho um comunicado a fazer. Quem não se lembra do famoso Haldir?
Todo o povo gritou em sinal de saberem quem era ele e de gostarem dele.
-Infelizmente ele já não está connosco mas deixou-nos a sua herdeira. Ela chama-se Yáviël e é esta rapariga que está a meu lado.
Aí as pessoas ficaram muito mais petrificadas em mim.
-Nós, elfos, somos pacíficos e queremos paz, mas temos um grande inimigo entre nós. Rathir não descansará enquanto não destruir a paz existente entre nós e matar quem lhe causa mais medo, ou seja, a Yáviël. Por isso Carnil vai tomar conta dela e fazer com que se torne uma guerreira tão especial quanto o seu pai. Todos aqui gostávamos do teu pai querida e temos a certeza que mereces todo o respeito que ele teve. Desejamos-te tudo de bom e alguma coisa que precises tanto eu como este enorme povo estamos dispostos a ajudar-te. Desde já um muito obrigado por vires para cá e ajudar este povo.
-De nada. O prazer é todo meu de estar aqui. Sempre quis saber a origem de todas as historias fantásticas que ele me contava. Agora sei a origem e por pouco tempo que esteja aqui já tenho muitas historias para contar. Vocês são fantásticos e deram-me umas boas-vindas que me fizeram ficar completamente á vontade. Espero não vos desiludir e seguir as pegadas do meu pai. – acabei por dizer comovida pela boa vontade daquela gente.
Fiquei apenas confusa por uma coisa. Elfos? Que são elfos? Obviamente não era pergunta para ser exposta ali mas uma pergunta para o Carnil me explicar.
Olhei novamente para o povo e estacou-se um homem. Era bonito e olhava-me de forma diferente dos outros, era doce. Sorri para ele e ele passou a mão atrás do pescoço de estar envergonhado por ter reparado.
Carnil levou-me novamente para casa e enquanto o vi não desviei o olhar daquele rapaz. Chegamos a casa e pedi ao Carnil para me acompanhar. Fui para a biblioteca e ele veio atrás.
-Erat, tenho uma duvida.
-Diz. – disse ele.
-O que são elfos?
Ele riu-se e eu não sabia porquê.
-Oh Yáviël, nós somos elfos. Não somos humanos, somos elfos. As orelhas não são deficiências, é uma característica dos elfos. Somos seres mágicos, pacíficos e a nossa língua é o Quenya. Apesar de falarmos normalmente, as coisas mais importantes ou segredos são discutidos em Quenya.
-Obrigada. Olha mais uma coisa…
-Diz curiosa.
-Conheces toda a gente do povo? Ou quase toda?
-Sim, nós aqui conhecemo-nos todos porque?
-Eu reparei num elfo será que me podes dizer quem é?
-Só dizeres que era elfo não ajuda muito. Podes descreve-lo? – pediu Carnil.
-Acho que sim. Tinha o cabelo castanho, não muito escuro. Os olhos eram cor de avelã, a túnica azul e trazia adagas.
-Ele tinha um colar? – perguntou.
-Tinha. Era uma estrela de seis pontas, acho.
-É o Anarion. É um dos melhores que temos nas tropas.
-Uau! E vocês conhecem-se por colares?
-Não. São as equipas. Em cada especialidade temos um de cada equipa. Ou seja, eu sou da equipa da lua e a minha especialidade é o arco, no meio de todos que manejam a espada tem lá outro da equipa da lua e temos outro nas adagas e outro na luta e juntando todos formamos uma equipa, a equipa da lua.
-Já percebi. E de que equipa é que eu sou?
-Isso são os medalhões que escolhem por nós. Mas no momento certo verás.
-Há muitas raparigas guerreiras?
-Há mais cinco. Olha uma delas é tua prima.
Eu ri-me quando ele mencionou a minha prima. Depois do que li na carta acho que vou-me rir cada vez que os vir. Ele ficou confuso.
-Porque te ris?
-Por nada Erat. Estou desejosa por ir para lá.
-O teu primeiro treino é amanha. É aí que vais decidir a tua especialidade e o teu medalhão vai escolher-te.
-Gostava de ficar na tua equipa. Ou na do Ana quê?
-Anarion.
-Isso.
-Bem guarda essas energias para amanha.
-Guardarei.
Ele ia a sair e eu gritei:
-Mestre!
Ele olhou de repente e com um sorriso. Eu retribui o sorriso e disse:
-Obrigada!
-De nada. – respondeu ele e saiu.
O resto do dia foi normal. Excepto alguns olhares do Erat para mim. Acho que não gostou muito da ideia de ter sentido alguma coisa pelo Anarion.
Amanha trago mais novidades e se calhar melhores porque vou ter o meu primeiro dia no meio das tropas.
Terça-Feira, 04 de Maio de 2010