Sábado, 22 de Maio de 2010

Querido diário:
Eu mal dormi sempre a prestar cuidados a Erat. Ele também não dormiu devido aos profundos cortes que lhe atormentavam. De vez em quando escapava um guincho de dor e eu logo o acalmava com um beijo ou uma carícia.
De manha os guardas entravam por lá dentro e disseram:
-Rathir e Anarion querem ver-vos! Vamos depressa!
Puxaram-me por um braço e levantaram o Erat à bruta ao que eu avisei:
-Cuidado com ele. Já não vos chegou o que lhe fizeram ontem?
-Se não queres levar já é melhor calares-te! – disse o guarda que me levava.
-Não percebeste covarde? TEM CUIDADO COM ELE!
Rapidamente ele deu-me um estalo no qual caí no chão.
-ÉS MESMO COVARDE.- gritei.
-Anda rápido e cala-te se não queres ter problemas. – disse o guarda.
Chegamos finalmente á presença de Rathir e de Anarion.
-Yáviël, que te aconteceu? Tens a cara completamente inchada e vermelha! – disse Anarion.
-Foi o teu guardazinho. – respondi.
-Ela não se calava a dizer para termos cuidado com este e gritou e eu perdi a paciência. Desculpai-me. – desculpou-se o guarda.
-Desta vez passa… mas livrem-se de tocar-lhe novamente, está entendido?
-Sim senhor. – respondeu.
-Vão buscar gelo para ela. – ordenou Anarion.
E eles foram. Depois levantou-se Rathir e dirigiu-se a nós. Levantou a cara de Erat e disse:
-Isto não te estaria a acontecer se nos tivesses entregado Yáviël naquele dia na Terra.
-Tu querias mata-la. – disse Erat com imenso esforço.
-E quero. Mas Anarion não deixa. E já que não a posso matar fisicamente, ao menos que tenha o prazer de o fazer psicologicamente. Por isso estás cá tu, e por não ma teres entregado naquele dia.
-Dia em que matas-te o meu pai. – Intervim.
-Como sabes? – perguntou.
-Contaram-me.
-Hum. Imagino. O teu pai foi um grande homem. Mas não podia ter feito o que fez. – disse Rathir.
-E o que é que o meu pai te fez? – perguntei.
-Roubou-me o coração, a alma, a vida.
Retirou-se da nossa beira e foi para junto de seu filho e continuou.
-O teu pai roubou a vida da mulher que me concebeu este filho. Tínhamos imensos planos. A nossa casa já estava construída, tínhamos já quarto para os quatro filhos que planeávamos ter. Não faltávamos a nenhum treino do teu pai. Eu e ele fomos os melhores amigos. Até que num dia, numa batalha. Estávamos com falta de arcos e ele deu um jeito. Mas uma das flechas acertou nela. E não devia não devia… ah ah mas ele pagou-as e bem caras. Era suposto ele assistir á tua morte da mesma maneira que eu assisti á da minha mulher. Mas Erat escapou contigo e como sei que se o deixasse vivo ele vinha atrás de mim matei-o.
Conseguia-se entender agora a sua fúria. Ele não era mau, apenas lhe tiraram a vida. Eu acho que se me fizessem o mesmo a mim, se matassem Erat mesmo á minha frente que era capaz de fazer o mesmo. Ou melhor, acho que o digo de cabeça quente porque na verdade apenas consigo matar os meus inimigos e nem sei se isso é fácil ou se consigo mesmo.
A verdade é que ele tinha uma historia, uma razão e eu respondi:
-Tenho a certeza que o meu pai não fez por mal.
-Não fez mas matou-a. Bem vamos ao que interessa hoje. O teu namoradinho vai sofrer mais um bocadinho.
-Não faças isso Rathir. Faz-me sofrer a mim! Ele ainda nem recuperou das chicotadas de ontem.
-Não digas parvoíces Yáviël. – disse Erat.
-Erat tu estás imensamente ferido eu não vou permitir que te magoem outra vez.
-Bem então parece que vou ter de fazer as coisas da maneira que não queria. GUARDAS! – disse Rathir.
-Sim senhor. – responderam.
-Prendam a Yáviël e levem o Erat.
Com muito esforço da parte deles conseguiram amarrar-me a uma cadeira e pôr-me um pano na boca para que não conseguisse falar. Pousaram-no no mesmo circulo no dia anterior, mas desta vez o circulo estava cheio de vidros partidos.
Erat infelizmente não se aguentou de pé caindo sobre os vidros. Tão depressa caiu como tentou levantar-se devido á dor que sentira que era completamente transmissível pelos seus gritos.
Eu bem tentava gritar mas era sempre sem sucesso. Apenas as lágrimas corriam sobre a minha face e no meu corpo ia ficando moldada a figura das cordas que me prendiam. Quando ele finalmente conseguiu sair da área com vidros pegaram nele e colocaram-no á minha frente e desprenderam-me. Erat não falava sequer, apenas respirava de forma violenta, mesmo a tentar resistir á sua própria morte.
Quando me prenderam baixei-me e tirei o maior número de vidros que ele tinha agarrados ou enterrados no seu corpo depois cuidadosamente peguei nele e levaram-nos para a cela. Onde novamente nos deram a água a ferver e o pano. Aí com mais cuidado tive a tentar tirar-lhe os vidros todos. Doía-lhe evidentemente e cada guincho de dor da parte dele era uma lágrima que me corria. Enquanto o curava deixei escapar um desabafo:
-Que fomos nós fazer Erat…
-Amor. – respondeu ele.
Lembro-me de lhe ter respondido o mesmo quando ele estava aflito por o termos feito. Dei um sorriso leve e depois disse:
-Um amor que pagamos bem caro.
Ele calmamente respondeu:
-Mas há-de ser o maior tesouro das nossas vidas.
Eu sorri novamente. Ele estava a aguentar tudo por mim. Ele está quase ás portas da morte por mim. Acho que já me passou pela cabeça o desejo de não estar grávida, só para não o ver sofrer nunca mais. Quer seja nas mãos de um vilão, ou não, sei que ele estará bem.
O resto do dia foi igual. Estivemos trancados na cela, deram-nos as míseras refeições e agora estou a tentar adormece-lo mas sempre sem sucesso devido às dores serem grandes. Meu pai, meu irmão, minha mãe, ajudai-me por favor. Ajudem-me a enfrentar este dilema. Ajudem-me a ser feliz. Ajudem as tropas a vir buscar-nos. Porque tardam tanto? Peço-vos, ajudai-me…