Querido diário:
Anarion é da pior espécie que pode existir. Ele de maneira alguma pode ser elfo. Um elfo não fazia outro elfo sofrer.
Hoje de manha acordei com dois guardas a puxar-me pelos braços e a dizer “hoje vai começar o teu sofrimento” e começou mesmo. Levaram-me para um pátio enorme onde Erat estava no centro acompanhado de três guardas e preso a dois troncos, uma mão em cada tronco. A corda via-se que apertava os seus pulsos. Eu gritei:
-Erat !
Ele olhou-me e baixou a cabeça.
-Meu amor. Olha para mim.
Ele olhou mas não aguentou muito e baixou a cabeça. Puseram-me em frente a ele e eu disse:
-Erat, nós somos superiores a isto. Olha para mim.
Ele olhou. Os seus olhos mostravam uma dor incalculável. E essa dor foi transportada pelo olhar para mim. Senti-me terrível e inferior. Ele finalmente conseguiu dizer:
-Yáviël, se eu morrer trata bem do nosso filho e não deixes que nada de mal lhe aconteça.
Eu respondi:
-Meu amor, tu não vais morrer, vamos criar o filho juntos.
Nisto o guarda intervem:
-Chega de lamechices e vamos ao que interessa.
Levaram-me para o lado de fora do circulo onde Erat se encontrava e prenderam-me umas cordas aos pulsos e ataram as cordas a outros troncos. Quando me prenderam dirigiram-se para o meu lado, um para o lado direito e outro para o esquerdo e disseram:
-Aproveita o espectáculo.
E desataram a rir. O guarda que estava a beira de Erat pegou numa corda mais fina que as outras e colocou-se do lado dele. Eu puxava as cordas o mais que podia para tentar soltar-me e ir ter com ele mas não consegui até que ouvi o primeiro estrondo e um grito de dor do Erat. A primeira chicotada estava dada e a minha primeira lágrima caíra. Mas minhas mãos fizeram mais força e sem sucesso ouvi a segunda chicotada e o segundo grito de Erat.
-POR FAVOR! PAREM! – gritei.
Os guardas olharam para mim, riram-se e disseram:
-Só faltam mais 48 chicotadas.
Desatei a chorar mais do que estava antes e disse:
-Erat tu és forte e um bom guerreiro, meu amor não desistas. Pensa no nosso filho.
Ele fez-se de forte não gritando nas três chicotadas seguintes mas depois não resistiu e gritou novamente.
Foi horrível. Acho que nunca havia sofrido mais do que naquele momento. Ver a pessoa que mais amo a ser sacrificada por causa de um ordinário ter uma obsessão por mim.
Erat não tem culpa e está a sofrer por mim e isso nunca me perdoarei. Estarei endividada para com ele o resto da vida. Quando acabaram as 50 chicotadas soltaram-no e ele caiu direitinho no chão. De seguida soltaram-me a mim e eu fui a correr ter com ele:
-Erat, meu amor, Erat fala comigo.
As costas dele estavam completamente lavadas em sangue e cheias de golpes profundos das chicotadas. Ele com muita dificuldade respondeu:
-Eu estou bem Yáviël. Eles magoaram-te?
-Não meu amor. O único acto que me magoou foi o teu sofrimento.
-Estás com marcas nos pulsos. – disse ele.
De facto os meus pulsos estavam completamente pisados e inchados da força que tinha feito para tentar-me soltar.
-Não dói meu amor. Vá vamos tratar de ti.
Eles levaram-nos para a mesma cela desta vez e puseram lá uma bacia com água acabada de ferver e uma toalha. Eu tentei senta-lo e lavar-lhe as costas com a água quente e a toalha para também desinfectar. Sentia-o a reagir á dor mas deixou-me tratar dele até ao fim. Deitei-o de costas para cima e deitei-me ao lado dele. Acabamos por adormecer. Acordaram-nos quando trouxeram o almoço e o jantar, eram as únicas refeições que nos davam e mal. Era apenas uma sopa numa tigela pequena, água e um pão. Erat não quis comer mas eu insisti pelo menos a sopa e ele contrariado comeu.
Estive á pouco tempo a desinfecta-lo outra vez, vieram dar-nos água novamente a meu pedido e ele está acordado e com imensas dores. Estou com a minha mão esquerda entrelaçada na dele e agora que acabei de escrever vou-me deitar com ele e fazer-lhe festas e dar beijinhos tudo para que se sinta minimamente melhor e não adormeço sem lhe dizer o merecido “AMO-TE”. Até amanha.
Sexta-Feira, 21 de Maio de 2010